A Força de uma Mulher Dá o Nome à Lei Berenice Piana (Lei 12.764/2012)

 

A força de uma mulher e mãe de filho autista, que, nos anos 90, buscou compreender o que havia de diferente no seu terceiro filho, chamado Dayan, fez da Sra. Berenice Piana a primeira pessoa a conseguir a aprovação de uma lei, no Brasil, por meio da iniciativa popular.  Por isso, a Lei 12.764/2012 chama-se Lei Berenice Piana.



Inconformada com as respostas vazias que recebia dos profissionais da área da saúde sobre a definição de algum diagnóstico para seu filho caçula, que já completaria dois anos, passou a estudar por sua própria conta, para descobriu o que seu filho tinha, que tanto diferia dos irmãos Diego, de 9 anos, e Shahla, de 7 anos.  O resultado da sua pesquisa constante só veio aos 6 anos de idade de Dayan, enquanto isso a situação da saúde dele só piorava com o passar o tempo.

Berenice Piana narra que: “Comecei a perceber que a fala dele não evoluía. De dois anos de idade pra frente, não evoluiu, ele involuiu. Já não olhava mais no olho. Não estabelecia nenhum diálogo, não falava. Se isolava da família. Não socializava com outras crianças. Não brincava de forma adequada com os brinquedos. Pegava um carrinho, colocava do lado do ouvido e ficava girando a rodinha. Se pegasse um objeto, ficava girando nas mãos”.  Segue contando que: “Outra coisa interessante foi na alimentação. Ele se alimentava como qualquer outra criança até essa idade e, de repente, ficou muito restritivo, só comia determinado tipo de alimento. Não engolia mais nada redondo.”

Enquanto a situação do filho caçula se agravava, diversos médicos diziam que a criança era neurotípica e não percebiam nada de errado com ele.  Ela relata: “Infelizmente eu tive que diagnosticar meu filho sozinha. Os médicos não percebiam nada de errado com ele. Naquela época o autismo era muito desconhecido, não havia profissionais no Brasil capacitados para diagnosticar autismo.”

Após ter a confirmação do diagnóstico, ela passou a buscar os tratamentos adequados, mas, como ainda acontece, até hoje, com algumas pessoas, ela não encontrou ajuda no sistema público de saúde, despreparo das escolas e falta de informações jurídicas sobre os direitos do seu filho.

A luta desta mãe foi incansável e deu origem à Lei 12.564, de 27 de dezembro de 2012, lei que definiu o TEA – Transtorno do Espectro Autista -  como uma deficiência e incluiu o autista nos direitos estabelecidos para as pessoas com deficiência no Brasil.

Em dois anos e meio de trâmites legais, entre a apresentação do texto da lei, a aprovação do Congresso e a sanção presidencial, passaram-se dois anos, período bem mais curto do que o tempo que Berenice Piana levou para ter o diagnóstico de autismo do seu filho Dayan.

Resumidamente, o texto desta lei da sua co-autoria estabelece como direito dos autistas o acesso a ações e serviços de saúde:o diagnóstico precoce, atendimento multiprofissional, a nutrição adequada, tratamentos, terapias e medicamentos fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além do acesso à educação e o ensino profissionalizante, à moradia, ao mercado de trabalho e serviços que proporcionem a igualdade de oportunidades, à proteção social (previdência e assistência social).

A partir da sanção desta lei, as pessoas com TEA passaram a ser incluídas nas leis específicas de pessoas com deficiência, como o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015), e também nas normas internacionais assinadas pelo Brasil, como a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Lei 6.949/2000).

E a luta de Berenice Piana continuou.  Ela criou a primeira Clínica-Escola do Autista do Brasil, uma instituição pública que atende, gratuitamente, 200 alunos/pacientes, na cidade de Itaboraí, Rio de Janeiro.  Ela é o ícone do ativismo pela pessoa com autismo no país e com reconhecimento internacional, com o título de Embaixadora da Paz pela Organização das Nações Unidas (ONU) e União Europeia, em 2017.

“Não se isolem e nunca desistam de seus filhos.” – este é o recado de Berenice Piana para os pais de filhos autistas.

Tânia Motta Nogueira Reis – advogada holística (colaborativa e integrativa), escritora e terapeuta transpessoal.

E-mail: autismo.advogados@gmail.com


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