Olha nos Meus Olhos
“Os
olhos são as janelas para a alma.”
Edgar Allan Poe
É incrível como existem pequenas
coisas levam a grandes resultados. O que
talvez nos leve a crer que não existem coisas pequenas, de fato. Assim é
em todas as nossas relações. Assim é com as pessoas que amamos. Assim é, mais
ainda, com uma criança autista. Minha princesa até os 02 (dois) anos de idade não
conseguia sustentar o contato ocular. A ausência do “olho no olho” é, a um só
tempo, uma das marcas mais presentes no TEA e é, também, um dos pontos de
partida para uma conexão qualitativa com esses indivíduos. Aliás, você já
percebeu como é difícil se conectar, de fato, em uma conversa, quando você e a outra
pessoa não se olham olho no olho?
Muito embora hoje seja o
mais natural dos passos, foi preciso apoio e treinamento para entender como,
porque e para que devemos, antes de começar a conversa, conectar ao olhar.
Antes de conquistar a atenção, conquistar o olhar. Antes de pedir para parar de
chorar, para abraçar ou explicar que algo, naquele momento, não é adequado, é
necessário conquistar o olhar. Entre dezenas de leituras e centenas de
conversas, destaco com clareza um dos cursos que fizemos no Hanen Institute[1], uma brilhante escola de (para)
cuidadores e tutores com sede no Canadá. O curso foi o More Than Words e
nos ajudou muito a aprender a conquistar a atenção da princesa. Sem ela, a
atenção, toda batalha estava fadada ao fracasso.
O More Than Words
amplia muito o entendimento sobre a conexão entre pessoas. Por mais que seja
voltado para pais e cuidadores de crianças com alguma evidente dificuldade
na comunicação, posso afirmar que todos nós temos alguma (ou algumas) zona(s)
de dificuldade(s) de conexão. Já notou que algumas vezes uma briga com alguém
querido (namorado, irmão, professor, colega de trabalho, etc.) começou sem causa
aparente e, tempos depois, vocês percebem que não houve razão para aquele
conflito? Faltou olhar. E falta muito nas relações humanas a sensibilidade às
chamadas zonas de interesse, que o curso do Hanen ensina
muitíssimo bem. Lembre-se sempre: antes
de conquistar a escuta ou a atenção, se esforce para conquistar o olhar.
Incrível, emocionante e imensamente provocador é assistir, mundo a fora, diversas cenas de filhos neurotípicos buscando a atenção de seus pais, puxando as calças ou as barras da saia, olhando diretamente para os olhos dos pais em busca dessa conexão. Quantas vezes uma criança, no auge daquele choro com birra, faz questão de segurar o rosto do pai ou da mãe, forçando-o(a) a olhar no olho para contemplar aquele choro todo. Em suma: um pequeno passo que leva a resultados gigantes é ajudar a pessoa que não consegue ou não sabe estabelecer esse contato a fazê-lo. O olhar enriquece a comunicação e dá sustento.
E você? Tem olhado no olho das pessoas quando conversa? Todos os dias se encara no espelho e se olha dentro de seus próprios olhos?
Deixo aqui um recado
simples, bem simples. E pequeno: aproveite cada olhar de cada pessoa que você
ama. Não existem coisas pequenas. Cada olhar é um universo dentro de si.
Cada olhar é uma conexão com um infinito.
Marcos Paulo Ribeiro - jurista.
E-mail: adv.mpribeiro@gmail.com
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