Autismo: Uma Breve Revisão Médica para o Leigo - Parte 2

Nota da Revisora do Blog:  

Este artigo tem início na Parte 1 e continua, aqui, discorrendo sobre diagnóstico, tratamento e muito mais.

Veja o link da Parte 1:

https://autismosaudeedireito.blogspot.com/2021/04/autismo-uma-breve-revisao-medica-para-o.html


O diagnóstico é clínico do TEA (não existem exames que comprovem o autismo), interdisciplinar e exige treinamento especializado (normalmente envolvendo neurologistas infantis, médicos psiquiatras infantis, psicólogos e pediatras que tenham experiência com o autismo).

Procedimentalmente, diagnosticar o TEA envolve atenção aos atrasos no marco do desenvolvimento. Pais e cuidadores podem perceber, geralmente no segundo ou terceiro ano de vida, que a criança “perdeu” as habilidades que tinha, como: ouvir atentamente ou se expressar visualmente.



Deve-se ter cuidado também com o diagnóstico inadequado, tendo em vista que o próprio termo “espectro do autismo” amplia as possibilidades diagnósticas, e, por isso, podemos captar como patológicos pontos que na verdade são parte do desenvolvimento normal da criança. Ademais, há o diagnóstico diferencial com transtornos que podem gerar sintomas semelhantes (principalmente em crianças maiores), como traços disfuncionais de personalidade, esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão, relação com o meio e tudo mais.

O diagnóstico, portanto, envolve a afirmação implícita de que muita coisa deve ser mobilizada para o resto da vida. Portanto, é redundante dizer que se precisa ser extremamente zeloso e cuidadoso. A postura serena do profissional e das famílias, neste momento, é indispensável.

Quanto a tratamentos, atualmente as evidências científicas apontam para várias abordagens comportamentais como tratamentos mais eficazes, visando melhorar os comportamentos desadaptativos, como: linguagem, estereotipias, capacidade de empatia e socialização. Em geral, estes tratamentos devem ser intensivos e o mais precoce possível, pois, apesar de não ter cura, tais intervenções podem melhorar muito o desenvolvimento do indivíduo.

O autismo não tem cura. É um transtorno mental crônico que se for diagnosticado precocemente e as abordagens terapêuticas forem introduzidas adequadamente (ABA, integração sensorial, metodologias para desenvolvimento da fala, PECS, metodologias pedagógicas especificas para o aprendizado - método TEACCH, e muitos outros), podem melhorar muito a autonomia e a independência do paciente. A visão tem que ser transdisciplinar. O diagnóstico, idem. Os profissionais também. O tratamento idem. E isso tudo deve transcorrer ao longo do tempo, longitudinalmente e transversalmente.

Quanto a psicofarmacoterapia (tratamento com remédios, principal arsenal terapêutico do psiquiatra), não existe até o momento, infelizmente, um tratamento específico. O medicamento deve entrar em cena para tratamento das comorbidades médicas e psiquiátricas, quando existirem (depressão, ansiedade, TDAH, transtorno bipolar, insônia) ou sintomas-alvos específicos “dentro” do autismo, como agitação estereotipias graves, insônia, etc. Os medicamentos sempre devem ser introduzidos após cuidadosa avaliação e ponderação do risco-benefício (aliás, como deve ser qualquer prescrição médica).

Por derradeiro, é válido ressaltar que o quadro autista precisa de CUIDADOS e seriedade/sobriedade em sua abordagem. Não pode ser romantizado nem entregue a tratamentos de pobre base científica, como a mídia leiga e a indústria do entretenimento muitas vezes fazem, seja por ingenuidade, ignorância ou má-fé.

A discussão sobre os direitos desta população e o que se deve entender como “inclusão”, infelizmente, está longe de acabar (mais por questões ideológicas ou políticas do que técnicas ou estatísticas).

O meu apelo é para o lado humano. É estar atento, diagnosticar adequadamente, oferecer o melhor tratamento disponível, acompanhar, incluir e amar. É isso.


Thiago Campos de Oliveira - médico psiquiatra

E-mail: dr.thiagocampospsiquiatra@gmail.com


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